Como funciona a Bicicletada
por Celso Monteiro
Introdução
A Bicicletada é um movimento mundial que incentiva o uso da saudosa “magrela” como alternativa de transporte de pessoas, sobretudo nos grandes centros urbanos, que enfrentam sérios problemas com o excesso de automóveis em circulação, como a poluição do ar e sonora. Além disso, o movimento pretende discutir o uso respeitoso dos espaços públicos pelos cidadãos.
A Bicicletada, importante frisar, não é uma organização, tampouco é coordenada por instituições. Trata-se puramente de um movimento espontâneo, um evento livre, sem donos, onde qualquer pessoa pode fazer parte. Basta marcar uma data e um horário, juntar algumas pessoas e sair para o rolê. Simples assim.
Um carro a menos
Do site Apocalipse Motorizado
Chamada em países de língua inglesa “massa crítica” (critical mass), a Bicicletada foi realizada pela primeira vez em 1992 na cidade de São Francisco, Califórnia - Estados Unidos. Na ocasião havia 48 ciclistas. De lá até meados de 93, o evento manteve um crescimento mensal do número de participantes, até ultrapassar a extraordinária marca dos 500 ciclistas por encontro, adquirindo uma grande visibilidade local.
Deste ponto em diante, apesar de ignorado pela maioria das autoridades locais, a massa crítica passou a ser replicada em outras cidades dos EUA e em alguns países europeus. Atualmente, é realizada em centenas de localidades, nos quatro cantos do mundo.
A origem do termo “massa crítica”
O termo "massa crítica" é uma alusão a um documentário sobre bicicletas datado de 1992 (em inglês, “Return of Scorcher”, dirigido por Ted White), que descreve uma típica cena dos centros urbanos chineses: ciclistas se acumulando às margens de uma avenida movimentada, impedidos de atravessá-la pela ausência de faróis de trânsito.
Com o tempo, mais e mais ciclistas vão se acumulando até atingirem um grande número, formando assim a massa crítica. Concentrados, eles forçam sua entrada na pista até interromperem o trânsito dos veículos motorizados, atingindo seu objetivo: atravessarem a avenida e serem respeitados, e não simplesmente ignorados.
No Brasil, sob a bandeira de “um carro a menos”, a Bicicletada ocorreu pela primeira vez na cidade de São Paulo (a maior cidade da América Latina, diga-se de passagem), em 2002. Após quatro anos, em 2006, o canteiro central no final da Avenida Paulista, próximo à rua da Consolação, se tornou seu ponto de encontro oficial.
Fato interessante é que tal praça foi batizada pelos integrantes do movimento de “praça do ciclista”. E, em 17 de outubro de 2007, menos de um mês após o Dia Mundial Sem Carro, foi promulgada a Lei municipal nº 14.530, denominando oficialmente o local como "Praça do Ciclista".
Atualmente o evento ocorre em diversas cidades brasileiras.
Apocalipse Motorizado
Transporte ecologicamente correto
A bicicleta é, sem dúvida nenhuma, um dos meios de transporte mais ecologicamente correto que o homem já inventou. A bike não queima combustível fóssil e, portanto, não contribui para o aquecimento global (a única coisa que ela queima são os pneus da barriga de quem está pedalando); não emite gases que poluem o ar que respiramos; não faz barulho (ou seja, não gera poluição sonora); e ocupa muito pouco espaço no trânsito.
Uma das reivindicações da Bicicletada às autoridades públicas, a propósito, é justamente a criação de um número muito maior de ciclovias, pois uma das dificuldades enfrentadas por quem quer trocar o carro pela magrela é enfrentar o trânsito caótico e sem respeito das cidades.
Um carro a menos
Aos interessados pela Bicicletada, leiam abaixo o passo-a-passo de como organiza-la. Alguns princípios e regras devem ser observados.
O que não fazer
Antes de sair por aí chamando todo mundo para pedalada, lembre-se de que alguns detalhes devem ser observados.
Não se deve, por exemplo, pedir autorização para autoridades locais, pois não é necessário " você tem o direito de se manifestar de maneira pacífica e de andar de bicileta pelas cidades. A massa crítica também não faz propaganda de nenhuma empresa ou produto. Além disso, os ciclistas não devem se achatar no canto direito das ruas, o correto é utilizar uma pista por completo (inclusive, o código de trânsito brasileiro dá esse direito ao ciclista, desde que não haja ciclovia adjacente).
1. Defina o ponto de encontro: o primeiro passo para organizar a massa crítica é definir o local inicial do encontro. Em geral, escolhe-se um lugar central da cidade ou outro ponto importante de referência.
2. Defina data e horário: o segundo passo é definir a data e o horário do evento. É tradicional, ao redor do mundo, a escolha da última sexta-feira do mês, às 17h (que é, na maioria das cidades, o horário de pico do trânsito). É importante que estas convenções não sejam alteradas, evitando assim desencontros e dispersões.
3. Divulgue o evento: como todo encontro, para ganhar volume, precisa ser divulgado. Comece com o boca-a-boca entre amigos e, se possível, distribua panfletos em pontos estratégicos (como parques públicos, por exemplo). Lembre-se, contudo, de que a propaganda deve estar alinhada com a ideologia da bicicletada.
4. Seja persistente: não se deixe abater caso os primeiros passeios não sejam, digamos, um sucesso de audiência e participação. Não é fácil conseguir reunir todos os interessados em uma mesma data e horário.
5. Comunique-se: para garantir a expansão do movimento e a comunicação entre seus membros, crie uma forma de comunicação. A internet, por meios de blogs e fotoblogs, por exemplo, é uma ótima solução.
6. Seja criativo: a criatividade é bem vinda na bicicletada, pois agregam um tom de ironia nas reivindicações contra o mau humor de condutores de veículos motorizados. Em São Paulo, por exemplo, os ciclistas, que penduram nas “magrelas” placas com a afirmação “somos trânsito!”, já pedalaram com máscaras de gás ou vestidos de paletó (simbolizando executivos).
Irreverência - Manifestantes vestidos de
Apocalipse Motorizado
7. Respeite as leis de trânsito: é fundamental que as leis de trânsito sejam respeitadas pela bicicletada, afinal de contas, é preciso respeitar para ser respeitado.
O Código de Trânsito Brasileiro, por exemplo, obriga o ciclista a colocar refletores dianteiros, traseiros e dos lados da bicicleta, ter uma campainha ou aviso sonoro, e ter um espelho retrovisor. Então, pedale com estes acessórios.
Além disso, a massa crítica almeja transformar a bicicleta em uma alternativa efetiva de transporte, por isso, é preciso respeitar todas as regras de trânsito impostas a veículos motorizados, como parar no farol vermelho, não parar sobre a faixa de pedestres e não andar pela contra-mão.
Além de São Paulo, a bicicletada ocorre em diversas cidades do Brasil, na última sexta-feira do mês. Veja, na tabela abaixo, os locais e datas de cada uma delas:
Brasília
(www.bicicletada.org/brasilia)
Concentração a partir das 9h Estacionamento da Administração do Parque da Cidade (Quiosque Ponto do Atleta).
Florianópolis
(www.bicicletada.org/floripa)
Saída as 10h Praça Fernando Machado (Miramar) ao lado do Terminal Urbano e Praça XV
Porto Alegre
(www.bicicletada.org/poa)
Saída as 10h Brique da Redenção
Rio de Janeiro
(www.bicicletada.org/rio) 9h45 Final da ciclovia da Praia do Leblon
São Paulo
(www.bicicletada.org/sp) Saída as 17h Esquina da Avenida Paulista com a Rua da Consolação
Curitiba
(www.bicicletadacuritiba.org) Concentração: às 09:30, saída às 10:00 Pátio da Reitoria da UFPR - Amintas de Barros
Vale lembrar que o trajeto a ser percorrido pela massa crítica é sempre definido pouco minutos antes do horário de saída, sendo definido pelos próprios participantes daquele encontro.
Agora só falta tirar a ferrugem da magrela e saí por aí pedalando, não é mesmo? Quer um conselho, antes de sair para o rolê, perca cinco minutinhos lendo nosso artigo sobre bicicletas, com certeza você vai gostar.
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Fonte: Celso Monteiro. "HowStuffWorks - Como funciona a Bicicletada". Publicado em 13 de setembro de 2007 (atualizado em 16 de junho de 2008) http://ambiente.hsw.uol.com.br/bicicletada1.htm (18 de maio de 2009)
